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Resultado da prospecção ao lago em Fevereiro de 2009

Miguel Andrade - publicado neste sítio em Maio de 2009


Introdução
Anomalias climatéricas ou ciclos climatéricos ?
Resultado da prospecção
Bibliografia

 

Introdução

A fim de consolidar a minha convicção sobre o facto de que a manutenção de peixes em lagos ao ar livre é sem dúvida o método mais ético, conveniente, favorável e eficaz de todas as alternativas possíveis em cativeiro, habitualmente estou muito atento a qualquer fonte de informação que comprove e corrobore esta ideia.
Em 2006, pouco mais de um ano após ter conseguido obter o meu primeiro grupo da espécie Skiffia multipunctata tive oportunidade de ler um magnífico artigo científico - “ A Influência da Criação em Cativeiro no Comportamento de um Peixe Mexicano Ameaçado de Extinção, Skiffia multipunctata “.

O resumo deste artigo científico é suficientemente claro - « os projectos de reintrodução podem falhar devido ao facto dos animais mantidos em cativeiro perderem as competências comportamentais que lhes permitiriam sobreviver na natureza.
Criar animais já nascidos em cativeiro em condições semi-naturais, com o fim de os libertar na natureza, tem sido um sistema usado para incrementar as populações de espécies ameaçadas de extinção introduzidas na natureza, porém persistem incertezas sobre como é que o ambiente dedicado à criação e manutenção pode influenciar o desenvolvimento dos comportamentos.
Este estudo examinou os efeitos das condições de manutenção no comportamento do Goodeídeo Skiffia multipunctata, uma espécie ameaçada de extinção existente no México.

O comportamentos de corte ( galanteio ), agressão, audácia ( reacção aos perigos ) e alimentação, de peixes criados e mantidos em condições padronizadas de laboratório foram comparados com os de outros criados e mantidos em lagos no exterior.
Apresentam-se as descrições modelo inicialmente descritas para esta espécie, perante as quais se conclui que os peixes criados em laboratório apresentaram uma intensificação nos comportamentos de corte, agressão e curiosidade perante a presença de um predador, nomeadamente se comparados com os seus parceiros criados e mantidos no lago ao ar livre.

Os peixes criados e mantidos no ambiente de laboratório demonstraram ainda uma muito maior rapidez de assimilação e adaptação a um novo alimento na respectiva dieta ( Artemia salina ), do que os que foram criados e mantidos no exterior.

 

Figura 1 - Foto tirada ao lago no dia anterior à intervenção ( 22 de Fevereiro de 2009 ).

Estas descobertas sugerem que os ambientes de criação e manutenção em cativeiro promovem e fomentam tendências comportamentais, nomeadamente a curiosidade e agressividade, as quais, entre outras, podem ser prejudiciais à capacidade de sobrevivência de exemplares reintroduzidos na natureza », ( Kelley et al., 2005 ).
É difícil conseguirem-se capacidades de água em aquário sequer comparáveis às dos lagos de exterior.
Se aliarmos à reconhecida vantagem obtida pelo espaço o aproveitamento da luz solar ou das restantes condições ambientais... temos a conjugação perfeita para a recriação em cativeiro do ambiente natural dos nossos peixes de uma forma mais irrepreensível do que em qualquer outra opção de cativeiro.
Por divergências climatéricas com as regiões da sua proveniência, infelizmente muitas espécies só podem ser mantidas no exterior, em determinadas latitudes, durante uma parte do ano, caso contrário, a sua própria sobrevivência fica seriamente ameaçada por temperaturas demasiado elevadas no Verão ou, mais comummente, demasiado baixas durante Inverno.
Os Goodeiídeos vivíparos, ( também conhecidos pela expressão “ splitfins “ em Inglês ), são um interessante grupo de cerca de 40 espécies exclusivas numa região relativamente restrita das da “ Mesa Central “ ou planalto central do México.
Algumas delas estão-se a revelar extremamente promissoras como peixes de exterior em relação ao nosso clima ( consultar o artigo " Goodeiídeos; Algumas Espécies de Vivíparos Promissoras para Lagos de Jardim " ).
Como nos estamos a referir a peixes em real perigo de extinção e alguns já mesmo desaparecidos da natureza, não seria muito ético ou deontológico perder exemplares em testes ou experiências de aferição da tolerância ao frio, designadamente quando é quase impossível ter acesso à maioria destas espécies.
A minha primordial preocupação no período em que cheguei a manter 5 destas espécies, era conseguir todos os anos um grupo relativamente numeroso de indivíduos, os quais pudessem ser alojados em aquários durante o Inverno a partir do início de cada Outono.
As comunidades mantidas da maioria destas espécies, eram posteriormente libertadas nem lagos no exterior entre Abril e Outubro, antes de voltarem a ser recolhidas de novo para a segurança dos aquários em grupos generosos de reprodutores.
A partir de 2005, foi possível finalmente ensaiar a adaptação ao crítico período compreendido entre Outubro e Março, através de um reduzido número de adultos.
A colecção entretanto mantida das duas únicas espécies disponíveis no mercado nacional de aquariofilia;
Ameca splendens e Xenotoca eiseni, tinham-se entretanto reproduzido de forma tão consistente que atingiram um número de efectivos que excedia a lotação no espaço disponível nos aquários de Inverno.
De facto, estas duas colecções tinham atingido já um número tão significativo de exemplares que não foi possível capturar todos nesse Inverno, tendo alguns escapado incidentalmente e permanecido no exterior de forma não premeditada.
No final de 2007, fui lamentavelmente forçado a abdicar de uma parte considerável dos meus meios de manutenção e criação de peixes, pela segunda vez na minha vida.
A partir dessa altura seria impossível continuar a manter os aquários, pelo que se tornou imperativo decidir sobre que espécies seria razoável continuar a manter apenas com um lago de jardim e um último aquário, em particular em relação aos vivíparos da família Goodeidae, dado que esta súbita e inevitável mudança de conjuntura iria reduzir consideravelmente o espaço disponível.
Em face desta delicada e difícil tomada decisão, o meu ímpeto mais espontâneo foi resignar ( distribuindo gratuitamente pelos amigos ) às espécies mais raras e ameaçadas de extinção, continuando a manter de futuro apenas os dois Goodeiídeos acima mencionadas, os quais são relativamente abundantes no comércio e dos quais possuía grande número de efectivos.
Até este último Inverno ( 2008-2009 ) a prática de manter Goodeiídeos todo ano num lago ao ar livre, estava a decorrer de forma impecável. Ambas as espécies conseguiam ultrapassar muito bem os rigores dos Invernos anteriores, registando-se somente algumas esporádicas perdas de indivíduos mais fragilizados ou idosos da espécie Ameca splendens, particularmente nos episódios de frio intenso mais prolongados.
Desde o início desta experiência que eu tinha uma perfeita noção de que alguns Invernos revelar-se-iam, mais tarde ou mais cedo, fatais para os peixes mantidos todo o ano no exterior.
Em Outubro de 2008, não foi exequível capturar-se mais do que escassos jovens de ambas as espécies a fim de se constituírem os habituais grupos de reserva em aquário durante o Inverno.
Por motivos de força maior, foi impraticável vazar o lago no Outono, o que aconteceu pela primeira vez em anos.
No início de Janeiro de 2009, um período de temperaturas anormalmente baixas foi responsável pela perda de todos os exemplares de Ameca splendens, no entanto a espécie Xenotoca eiseni viria a revelar-se como muito promissora, tendo vindo a superar os anteriormente mais optimistas limites de tolerância ao frio.
Este grupo de sobreviventes revelou-se uma inesperada mais agradável surpresa.
Nas linhas que se seguem, para além de algumas conjecturas e detalhes relativos a esta experiência, serão expostos alguns dados importantes sobre o clima de Portugal.
A esperança é de que se consiga chamar a atenção dos aquariofilistas para a hipótese de um excepcional grupo de peixes vivíparos da família Goodeidae poder conter espécies com enorme potencial como peixes de lagos ornamentais, especialmente nos arquipélagos Macaronésios da Madeira e dos Açores. Mesmo em Portugal continental, há inúmeras regiões que têm condições para a manutenção de Goodeiídeos ao ar livre, nomeadamente o caso da espécie Xenotoca eiseni, a qual acabaria por conquistar muito má fama como peixe de aquário, em particular entre os aficionados pelos chamados aquários comunitários.


Anomalias climatéricas ou ciclos climatéricos ?

 

Quando investigamos pormenorizadamente o potencial oferecido pelo nosso clima local em relação à preservação de espécies exóticas em ambientes exteriores, não podemos relegar para um segundo plano o facto de que o tempo além de imprevisível é muito dinâmico.

Dessa forma é essencial ter em consideração os ciclos climatéricos e as anomalias.

Este procedimento é ainda mais relevante e indispensável se não queremos causar a morte a vidas inocentes ou sofrimento aos nossos peixes.

Devo confessar que a manutenção destas espécies em ambientes semi-naturais todo o ano é uma experiência muito recente para mim, sendo o meu conhecimento muito incipiente e fresco, no entanto, desde o início que uma das minhas maiores preocupações foi evitar perdas previsíveis nomeadamente devido a frio excessivo.

O primeiro lote de Goodeiídeos mantido em permanência no exterior começou somente em Outubro de 2005, pelo que todas as questões atmosféricas ou climatéricas fora do comum a seguir relatadas se reportarão ao período compreendido entre essa data e Março de 2009.

Dessa forma é fácil de compreender a importância da sondagem efectuada no lago em Fevereiro de 2009, particularmente em função das condições de frio invulgares registadas no mês de Janeiro.

No momento em que este artigo está a ser escrito, estamos a viver uma outra situação invulgar de seca que acompanha um final de Inverno com temperaturas máximas elevadas.

De facto, em Janeiro de 2009 a precipitação acumulada na região foi de 202,3 mm, apenas 75,9 mm em Fevereiro e uns meros 5,6 mm em Março, o que teve efeitos muito evidentes nos valores de temperatura registados.

O calor fora de época resultou sobretudo das temperaturas máximas terem sido condicionadas pela ausência de nebulosidade e das correntes de ar ameno que acompanham as chuvas da estação.

« A precipitação mensal acumulada do mês de Março nas regiões central e ocidental da Península Ibérica, apresentam um claro declínio na ordem dos 50% durante o período compreendido entre 1960 e 1997.

Este é no entanto o aspecto mais visível de um fenómeno mais alargado ao sector europeu do Atlântico Norte. As tendências de precipitação na Europa para o mês de Março, no período compreendido entre 1960 e 2000, mostram claramente um aumento regular das chuvas nas regiões situadas mais a Norte ( Ilhas Britânicas e parte da Escandinávia ) em simultâneo com propensão para diminuição ao logo de toda a bacia do Mediterrâneo », ( Paredes et al. 2006 ).

« O declínio corrente da precipitação no mês de Março na Península Ibérica e as constantes tendências de precipitação abaixo dos valores previsíveis, previstos em quase todos os cenários das mudanças climáticas, aumentam a natural apreensão sobre o futuro, tendo em consideração a questão da escassez progressiva dos recursos aquíferos.

É em relação a este contexto que a diminuição acentuada dos níveis de precipitação no mês de Março podem-se tornar um sintoma “ do que está para vir “, isto é, escassez de chuva e de água quando esta mais falta faz para o crescimento das plantas na Primavera assim como para uso humano nos consumos previstos para as estações da Primavera e do Verão », ( Pereira et al. 2002 apud Paredes et al. 2006 ).

Se a precipitação média acumulada para o mês de Março se mantiver nos valores actuais e as secas de Verão se tornarem o paradigma, o aumento de problemas relacionados com os recursos hídricos serão uma realidade muito fácil de prever, incluindo aqueles de natureza internacional entre Portugal e Espanha », ( Vlachos and Correia 1999 apud Paredes et al. 2006 ).

Situações climatéricas extraordinárias ocasionais não podem ser de forma alguma classificadas como alterações climáticas, mas a prevalência de tendências anormais a longo prazo, podem ser encaradas pelo menos como alterações significativas nos padrões regulares da meteorologia de uma determinada região.

A terminologia sobre alterações climáticas reflecte as anomalias e variações em relação ao clima previsto para uma determinada região, de acordo com os dados disponíveis registados em épocas precedentes.

No dia 29 de Janeiro de 2006, deu-se uma invulgar precipitação em forma de neve, a qual foi extraordinária pelo facto de se ter feito sentir em zonas do país onde a queda de neve é altamente improvável.

A intensidade deste fenómeno não foi assinalável nesta ocasião em particular, tendo os poucos vestígios do nevão desaparecido numa questão de minutos ou horas. A última vez que tal acontecimento meteorológico tivera lugar em Lisboa, tinha sido em 1954.

No dia 28 de Janeiro  de 2007, a queda de neve em regiões pouco propícias e habituadas ao fenómeno voltou a surpreender, mas desta vez pelo segundo Inverno consecutivo.

O ano de 2007 caracterizou-se ainda por ser mais um ano de seca numa sequência que se tornou frequente nos últimos anos.

O volume total de precipitação acumulada foi tão baixo, que este ano foi considerado o segundo ano mais seco desde 1931.

Ainda assim, ao contrário do que seria expectável, na época do ano mais habitualmente mais seca, nos meses de Verão, nesse ano ocorreram níveis de precipitação anormalmente elevados, o que contrariou completamente os padrões da pluviosidade habituais e correntes.

As temperaturas registadas nos meses de Junho, Julho e Agosto, forma por essa razão inferiores aos normais, tendo caracterizado o Verão de 2007 como o mais frio das duas décadas que o antecederam.

No balanço climatológico preliminar do ano de 2008, o Instituto de Meteorologia defende que em Portugal Continental, « O ano de 2008 caracterizou-se por valores médios da temperatura máxima, média e mínima do ar ligeiramente inferiores aos valores médios de 1971-2000, com -0.1ºC, -0.4ºC e -0.2ºC respectivamente.

Relativamente à precipitação, os valores foram inferiores aos valores médios de 1971-2000, classificando assim o ano como muito seco a seco.

Assim, 2008 foi o 8º ano mais seco desde o início dos registos em 1931, sendo que 2005 foi o ano mais seco.

O ano de 2008 termina em situação de seca meteorológica. Em 31 de Dezembro 68% do território do Continente encontrava-se em seca fraca, 31% em seca moderada e 1% em seca severa », ( Instituto de Meteorologia – http://www.meteo.pt/ ).

« Novembro foi caracterizado por valores baixos da temperatura do ar, em Portugal continental. De referir que o valor média da temperatura mínima, 4.7ºC, é o terceiro valor mais baixo desde 1931 com uma anomalia de -3.2ºC em relação à normal de 1971-2000. Os anteriores valores mais baixos são 4.3ºC em 1956 e 4.6ºC em 1971 », ( Instituto de Meteorologia – http://www.meteo.pt/ ).

« O mês de Dezembro, em Portugal continental, caracterizou-se por valores médios da temperatura do ar inferiores aos valores normais de 1971-2000, sendo as médias da temperatura média e máxima do ar inferiores em 1.4ºC relativamente aos respectivos valores médios e a média da temperatura mínima inferior em 1.7ºC.

Em algumas estações o número de dias em que a temperatura mínima do ar foi inferior a 0ºC foi superior a 15 dias, como é exemplo Miranda do Douro com 19 dias, Sabugal com 18 dias e Mirandela, Macedo de Cavaleiros e Carrazeda de Ansiães com 16 dias.

Relativamente aos valores de precipitação, este foi inferior aos valores médios de 1971-2000, classificando-se assim Dezembro como seco a normal, o que contribui para a continuação da situação de seca meteorológica em todo o território, com 68% em seca fraca, 31% em seca moderada e 1% em seca severa », ( Instituto de Meteorologia – http://www.meteo.pt/ ).

O mês de Janeiro de 2009, para além de quede de neve acentuada em regiões do país onde é previsível que esse tipo de precipitação tenha lugar, voltaram a ocorrer quedas de neve nalgumas outras regiões onde o fenómeno é muito raro.

Uma semana extremamente fria provocou algumas surpresas, incluindo uma altura de neve considerável no solo numa parte considerável do Norte e Centro, nomeadamente nas grandes altitudes.

O país não estava de todo preparado para fazer face ao problema da acumulação de neve. Nalgumas regiões, certas povoações ficaram isoladas, o que provocou a interrupção de muitos serviços públicos e infra-estruturas, durante alguns dias, enquanto a neve acumulada não se derreteu.

A versão oficial sobre o ocorrido, nomeadamente a queda de neve em locais pouco habituais, foi a de que « a queda de neve, registada, nas regiões do Centro e Sul do Continente ficou a dever-se ao deslocamento de uma depressão ao longo do território, de Norte para Sul.

Esta depressão formou-se numa massa de ar muito frio e teve uma linha de instabilidade associada.

A referida massa de ar foi gradualmente transportada na circulação de um anticiclone localizado na região das Ilhas Britânicas, desde a Europa Central até à região do Golfo da Biscaia e posteriormente transportada para Sul em direcção à Península Ibérica.

Deste modo, foram criadas as condições para a ocorrência de precipitação sob a forma de neve em grande parte do Continente.

Durante a ocorrência de queda de neve, a temperatura do ar atingiu valores mínimos de 0.5ºC na Figueira da Foz ( 10:10 ), 0.4ºC em Rio Maior ( 12:50 ), 0.1ºC em Santarém ( 13:30 ), 0.4ºC em Torres Vedras ( 14:50 ), 0.5ºC em Lisboa ( 15:00 ) e 0.8ºC em Setúbal ( 16:10 ) », ( Instituto de Meteorologia – http://www.meteo.pt/ ).

Note-se que todas as localidades referidas anteriormente estão fora das áreas onde é previsível a ocorrência de queda de neve.

Outra constatação interessante é o facto de se ter verificado uma progressiva descida da massa de ar frio de Norte para Sul, tendo-se verificado uma queda acentuada da temperatura precisamente no período habitualmente mais quente do dia.   

Em Fevereiro de 2009, registavam-se 8 metros de neve acumulada no solo na Serra da Estrela, o que não acontecia há várias décadas.

O mês de Fevereiro em Portugal continental, em termos de precipitação, classificou-se como normal a seco.

Relativamente à temperatura do ar, a média da temperatura máxima em Portugal Continental, foi ligeiramente superior ao valor normal de 1971-2000, com uma anomalia de 0.4ºC, no que diz respeito aos valores médias da temperatura mínima e média do ar, estes foram inferiores em – 1.3ºC e – 0.4ºC respectivamente, ( Instituto de Meteorologia – http://www.meteo.pt/ ).

Apesar dos períodos isolados de frio intenso, nomeadamente no último Inverno, com particular destaque para os que tiveram lugar nos meses de Novembro de 2008 e Janeiro de 2009, os meteorologistas constatam uma tendência geral de subida da temperatura média.

Desde que os registos meteorológicos começaram em Portugal, 1997 foi o ano mais quente de todos.

No grupo dos 10 mais quentes, 7 tiveram lugar após 1990, ( 1990, 1995, 1996, 1997, 1998, 2003 e 2006 ).

O Verão de 2006 foi o quinto mais quente desde 1931, seguindo de perto os anos de 1949, 2003, 2004 e 2005.

Isto não é, de forma alguma, qualquer tipo de conjectura sobre as alterações climatéricas, em particular sobre o chamado fenómeno do “ aquecimento global “, mas as constatações anteriormente referidas significam unicamente que estamos perante uma evidentes transformação dos padrões de pluviosidade, queda de neve e de períodos de seca.

Há pelo menos mudanças evidentes nos ciclos climatéricos e na distribuição sazonal das situações meteorológicas extraordinárias, com uma acentuada prevalência de fenómenos invulgares ou de anomalias climatéricas.

Outra tendência evidente é a da frequência com que as mudanças estão a ter lugar, a qual é sem dúvida muito mais prevalente e óbvia do que no passado.

De acordo com os dados estatísticos, esta evolução ainda se salientará mais nas próximas décadas.


Resultado da prospecção

 

Dado que tivemos em 2008 o mês de Novembro mais frio de todo o historial de registos de temperatura no lago, que se registaram alguns dias de temperaturas extremamente frios em Dezembro, em particular com máximas diárias abaixo do normal mas, acima de tudo um período extremamente frio no início de Janeiro de 2009, algumas das espécies que apresentam alguma tolerância ao frio mantidas no exterior foram sem dúvida sujeitas a um forte stress térmico este Inverno.

O dilema que o frio sentido na Invernia 2008/2009 representou, em termos de desafio à resistência de certos peixes, não foram tanto os extremos mínimos registados mas o facto do frio perdurar por longos períodos, numa das mais duradouras sucessões de episódios de baixas temperaturas desde que há registos.

Os chamados peixes de água fria conseguem de facto ficar submetidos às baixas temperaturas por períodos que podem chegar a 4 meses. Enquanto duram essas condições e a superfície da água fica muitas vezes coberta com uma camada de gelo, estas espécies entram numa certa dormência, não se alimentando e demonstrando muito pouca actividade.

Os peixes provenientes de regiões temperadas demonstram ser mais ou menos tolerantes ao frio, mas geralmente não resistem a descidas súbitas ou temperaturas baixas durante muito tempo, mas conseguem perfeitamente sobreviver a frio intenso durante algumas horas ou mesmo durante alguns dias.

Os lagos pequenos, nomeadamente até a um limite de capacidade de 50.000 litros de água ou menos, demonstram ser muito vulneráveis à flutuação da temperatura do ar. Esta regra é ainda mais importante se não existir uma protecção contra o vento e o recipiente possuir menos de 90 cm de profundidade.

Os lagos mais profundos e particularmente os de maior dimensão ou as bacias criadas pelas grandes barragens, evidenciam ser menos susceptíveis às variações térmicas do ar e aí os peixes obtêm refúgio dos extremos de calor ou frio nas áreas mais profundas.

Convém deixar claro que não se está a falar de um grande lago ou dos rios e outras grandes superfícies de água da região, mas sim de um pequeno lago de jardim, o qual pode ficar subitamente e em pouco tempo muito excessivamente frio ou quente em função das alterações meteorológicas, nomeadamente em comparação com as grandes massas de água onde tal não acontece.

Para além de algumas revelações, após este Inverno é crença geral que podemos contar agora com mais duas espécies bem adaptadas ao nosso clima.

Partilho a opinião do Paulo Alves, segundo a qual as espécies que resistiram ao Inverno 2008/2009 terão seguramente sobrevivência garantida em qualquer outro ano.

As temperaturas do ar registadas entre Novembro de 2008 e Fevereiro de 2009, podem dar-vos uma ideia precisa do que foi dito anteriormente :


Dessa forma era necessário proceder-se a um levantamento exaustivo das espécies que conseguiram ultrapassar com sucesso as invulgarmente baixas temperaturas, nomeadamente as registadas em Janeiro de 2009.

A operação teve lugar na Segunda-feira, dia 23 de Fevereiro de 2009, consistindo no esvaziamento total do lago e posterior reenchimento.

A temperatura do ar entre as 0:00 e as 24:00 desse dia variou entre a mínima de 7ºC e a máxima de 19ºC e entre 14ºC ( 6:00 ) e 15ºC ( 18:00 ) na água do lago.

Nas fotografias publicadas na página Resultados da prospecção de 23 de Fevereiro de 2009, podem testemunhar algumas das espécies que foram capturadas nesta operação.



A lista de espécies sobreviventes registados no final da captura foi a seguinte :

 

Carassius auratus ( variedade doméstica - Shubunkin )

Cyprinus carpio x Cyprinus rubrofiscus  ( Koy )

Cyprinodon alvarezi ( El Potosi )

Heterandria formosa ( variedade doméstica )

Oryzias latipes ( variedade doméstica )

Skiffia multipunctata ( Lago de Camecuaro )

Xenotoca eiseni ( variedade doméstica )

 


Não foram encontrados exemplares das seguintes espécies introduzidos antes do Inverno :

 

Ameca splendens ( variedade doméstica )

Aphanius mento ( Elbistan )

Fundulus cingulatus ( variedade doméstica )

Figura 2 - Xenotoca eiseni, uma das surpresas agradáveis


Foi uma grande surpresa não ter encontrado nem exemplares de Aphanius mento nem de Fundulus cingulatus, pois são resistentes ao frio e sobrevivem perfeitamente todo o ano no exterior às nossas latitudes.

Os exemplares de Fundulus cingulatus eram mesmo descendentes da linhagem criada pelo Alberto Gil, os quais estão habituadíssimos ao Inverno em pequenos lagos numa região seguramente mais fria ( Torres Vedras ).

Teriam sido vítimas de predação por serem muito jovens ?

Nesse caso também teriam desaparecido todos os exemplares de Heterandria formosa, os quais constituíram sem dúvida a mais inesperada boa notícia, já que embora encontrados em reduzido número ( 23 exemplares ), nem faziam parte da memória de espécies existentes no lago, como podem comprovar com a lista publicada na mensagem enviada no dia 26 de Janeiro com o assunto “ Recorde de temperatura mínima no lago “.

Constituiu uma surpresa moderada ter encontrado apenas exemplares jovens e crias de Xenotoca eiseni, pois todos os adultos ( especialmente os maiores ) morreram.

Sendo a Xenotoca eiseni uma espécie em teoria menos resistente às baixas temperaturas do que a Ameca splendens, foi um choque ter perdido as escassas centenas de exemplares desta última espécie, devido o frio deste Inverno, depois de terem sobrevivido sem vítimas no ano passado, por exemplo.

Note-se que o nosso conhecido colega Martin Ravn Tversted, no artigo de sua autoria - “ Low Temperatures and Cyprinodonts “ - defende que ambas as espécies possuem uma resistência idêntica ( vários dias a 10ºC ), contudo as Xenotoca eiseni este ano sobreviveram durante 5 dias abaixo dos 8ºC, tendo mesmo resistido ao recorde de temperatura mínima registada de 5.4ºC, como se pode ver mais abaixo.

Ainda usando como referência o artigo anteriormente mencionado do nosso colega Dinamarquês, vejam por exemplo o caso da espécie Skiffia multipunctata, referenciada no mesmo como podendo resistir até a um mínimo de 7ºC, também durante vários dias.

Trata-se sem dúvida de uma espécie a eleger para o povoamento deste lago no futuro.

Nesta operação foram retirados todos os exemplares de Carassius auratus a fim de facilitar a reprodução das espécies depositadoras de ovos.

A título de curiosidade é de salientar a grande quantidade de camarões “ Red Cherry “ ( Neocaridina denticulata sinensis ), incluindo fêmeas já com ovos maduros e muitas crias.

Para além de muitos invertebrados não identificados foi descoberto um girino de Rã-verde ou Rã-comum ( Rana perezi ), obviamente remanescente da época passada, dado o seu estádio de desenvolvimento e a inexistência de ovos ou de outros girinos.

Outro batráquio presente ( apenas 2 exemplares ) foi a Rã Pintada Ibérica ou Discoglosso Ibérico ( Discoglossus galganoi ).

Da flora introduzida no lago desapareceu pela primeira vez este ano o chamado Musgo de Java ( Vesicularia dubyana ? Taxiphyllum barbieri ? ), aqui referido desta forma por se tratar na realidade de outra espécie não identificada; provavelmente o musgo proveniente da Formosa ( Taxiphyllum alternans ), dado ser muito resistente ao frio letal para o Vesicularia dubyana que se faz sentir no nosso Inverno.

Todas as restantes plantes resistiram perfeitamente às incrivelmente baixas temperaturas, sendo a flora actual composta pelas seguintes espécies :

 

Elodea canadensis

Egeria densa

Lagarosiphon major

Myriophyllum spicatum

Potamogeton nudosus

Potamogeton pectinatus

 

Para terminar transcrevo de seguida algumas passagens importantes da minha mensagem enviada sobre os rigores deste Inverno no passado dia 26 de Janeiro de 2009 :

 

Embora tenha cessado a série de aferições diárias; em dias excepcionalmente frios ( ou quentes ) continuo a anotar as temperaturas para futura referência.

Os dados apurados à superfície da água ( 15 cm de profundidade ) no lago, neste início do ano foram os seguintes :

 

05-01-2009 > 12.3ºC

06-01-2009 > 10.1ºC

07-01-2009 > 9.6ºC

08-01-2009 > 9.2ºC

09-01-2009 > 7.2ºC ( dia mais frio > mínima de -1.6ºC  e máxima de 5.2ºC )

10-01-2009 > 7.1ºC

11-01-2009 > 6.4ºC

12-01-2009 > 5.2ºC

13-01-2009 > 6.7ºC

14-01-2009 > 8.3ºC

15-01-2009 > 10.2ºC

 

Se se observarem bem os meus registos expressos em “ Estudo de Caso “ : Temperatura da água em lagos de jardim, nomeadamente na parte relativa aos resultados anuais ( com todos os dados obtidos e gráficos descriminados por ano ), estas temporadas de frio intenso não são muito frequentes.

Há dois anos em particular, nos quais destaco situações de frio intenso no período compreendido entre 1985 e 2006.

Atente-se em particular ao mês de Janeiro de 2005 e ao de 1992.

A novidade neste início de 2009 foi o facto de ter sido batido o recorde anterior da mínima absoluta ( 5.5ºC ) e da súbita descida não ter acompanhado de perto as temperaturas do ar, dado que o dia mais frio do período estudado foi o dia 9 de Janeiro e não o dia 12 de Janeiro.

A explicação mais óbvia para esse contra censo é o facto de a amplitude térmica ter sido muito curta, tendo-se mantido as temperaturas máximas do ar muito baixas.

Seja como for, fica para a memória futura o mês de Novembro mais frio desde 1985 e um gélido início de Janeiro de 2009 com o recorde absoluto da mínima.



Bibliografia

 

J.L. Kelley, A.E. Magurran and C. Macý´as-Garcia, 2005. The influence of rearing experience on the behavior of an endangered Mexican fish, Skiffia multipunctata, Biological Conservation 122 (2005), pp. 223–230.

 

Paredes, D., Trigo, Ricardo M., Garcia-Herrera, Ricardo and Trigo, Isabel Franco, 2006. Understanding Precipitation Changes in Iberia in Early Spring: Weather Typing and Storm-Tracking Approaches. Journal of Hydrometeorology, Volume 7, Meteorological Society, February 2006, pp. 101 – 113.

 

Pereira, J., and Coauthors, 2002. Forests and biodiversity. Climate Change in Portugal: Scenarios, Impacts and Adaptation Measures — SIAM, F. D. Santos, K. Forbes, and R. Moita, Eds., Gradiva, 363–414.

 

Vlachos, E., and F. N. Correia, 1999. Shared Water Systems and Transboundary Issues: With Special Emphasis on the Iberian Peninsula. Luso-American Foundation, 454 pp.

 


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